Quando comecei a ler banda-desenhada, nos anos 90, a bd era vista em Portugal como o parente pobre da arte e das industrias culturais (ainda é um pouco). Lembro-me de ouvir coisas do género: “Não leias isso porque está mal escrito” e estava de facto. Muita da banda desenhada vinha em português do Brasil, talvez por isso não posso deixar de sentir um certo carinho pelo novo acordo ortográfico. Lembro-me também de dizer que, entre outras coisas, lia bd e me responderem: “Isso não é Ler”. Mas eu gostava. Tanto que na escola a professora de português me convidou para dar a aula de sobre bd. Não fui brilhante, mas gostei de partilhar a minha paixão e aprendi algumas coisas entre elas a palavra onomatopeia e que para ter sucesso com o público feminino “Gosto de bd” era uma informação que podia guardar para partilhar mais à frente.
Há porém uma altura do ano em que BD tem o enquadramento merecido em Portugal. Durante a Amadorabd. A Feira internacional de bd foi crescendo e melhorando. Quis o destino que eu vivesse na Amadora. A capital da BD em Portugal. Quis também que em adulto tivesse a oportunidade de conhecer Bruxelas a capital da BD Franco-Belga. Aqui a BD é orgulhosamente acarinhada e um forte símbolo da identidade cultural. Tanto que há um museu e várias são as fachadas dos prédios pintadas com desenhos do Tintim, Luky Luke, Corto Maltese e tantos outros. Quis ainda o destino que fosse ao Japão um nação inteira que consome banda desenhada. Aqui a bd há muito que ultrapassou o estigma. Não é coisa de crianças nem os livros de quem não gosta de ler. Há bd para todas as idade. A Amadora BD para além de não perder para o museu de bd de Bruxelas é também uma bela forma de ver bd para quem conhece e para quem não conhece. Pelo menos, durante uns dias a bd é colocada num pedestal. Apesar de ser a bd a apropriar-se de uma uma linguagem que não é a sua. A linguagem da arte plástica, museológica. Ainda assim vale a pena ir e ver!
Albuns; Comics; Graphic Novels; Mangas; etc. Na bd muitas são as correntes existentes cada uma com o seu lugar e apreciadores. Para mim são como irmãs que partilham uma mesma forma de contar histórias. Imagens e balões. Tento conhecer um pouco de todas e tenho as minhas preferências como qualquer um. No entanto há algo é comum a todas elas: A satisfação que obtenho quando tenho nas mãos uma boa página, um bom desenho, uma boa narrativa, bons diálogo e/ou uma grande história. E isso não é diferente da sensação que tenho quando vejo um bom filme, leio um bom livro ou aprecio uma obra de arte. Ou melhor é diferente, mas não menor. A bd também é arte. Cada coisa tem o seu espaço. Com este site pretendo apenas colocar de vez a bd no seu espaço: “A gaveta da 9ª Arte”