Avengers EndGame
Bem-vindos ao mundo pós-apocalíptico onde já estreou o EndGame vingadores. Espero que tenham gostado da vossa vida até hoje, porque não voltarão a este estado de inocência na vossa vida. Endgame era tudo que podia ser, triunfou em tudo que havia para triunfar, falhou em tudo que tinha que falhar e sobretudo finalizou tudo que tinha que finalizar.
Começo já por admitir que nunca fiz uma crítica escrita sobre cinema. No vulgar dia-a-dia, quando as ocasiões permitem, expresso-me tão bem como qualquer outro “hater” desta vida, sempre pronto a descobrir erros em filmes sobre personagens que me marcam o imaginário desde a infância.
Não o poderei fazer aqui. Tive uma experiência de profundo divertimento, a companhia era perfeita, uma pequena excursão de amigos e agremiados do BDNAUTA que serviu para assinalar o que podia ser um momento histórico: seria o filme mais antecipado da história dos super-heróis o melhor filme de super-heróis?
Penso que sim, mas isso não interessa. O que interessa é que fui munido de atitude, reservado, contido; estava pronto a odiar tudo o que se ia passar, mas apenas consegui obter um surpreendente equilíbrio entre roteiro, argumento, dinâmica, personagens, efeitos especiais, build-up e entrelaçamento de histórias.
A crítica que poderia fazer ao filme ele não a merece. Não merece porque, para além da máquina de blockbusters que é o triunvirato Disney-Marvel-Hollywood e a sua insaciável engrenagem de fabricar dinheiro, pareceu-me um produto feito com genuíno amor ás graphic novels de super-heróis da Marvel que acompanho desde a infância.
Contrariamente a outras franquias que não vale a pena mencionar, que vão agonizando em acertar o tom entre o novo – a rendição, a homenagem, o entrelaçar, o reciclar – EndGame é um produto muito sólido com um final satisfatório.
Voltando á tal crítica que ele não merece, foi com uma certa pena que vi um pequeno formatar das motivações do Thanos e a consequente transformação em um clássico super-vilão estiloso. O crossover de super-heróis em que este filme se baseia era a terceira tentativa de Thanos obter o poder absoluto, apresentava-o com uma maturidade fora do comum e um homem bastante atormentado por um amor não correspondido. Era um vilão bastante humano em muitos aspetos, olhando atrás no tempo, foi caracterizado de uma maneira bastante original e densa.
Podemos sempre argumentar que nada é perfeito, que cada um de nós, á sua maneira tem uma perspetiva sobre como abordar o personagem, mas só de má fé alguém pode dizer que ele não estava bem caracterizado. A leitura que os argumentistas fizeram do personagem parece-me acertada, fresca e respeitadora do produto original na banda desenhada.
Não voltaremos a um filme como este; e se voltarmos, se de fato houver outra vez filmes como este, terão sempre de conviver com a ideia que o sucesso deles será sempre uma repetição do que EndGame entregou ao público: um triunfo ANUNCIADO e 100% aprovado por todos os QI(s).
2019 é isto meus amigos, um filme com um argumento clássico de super-vilão-quer-conquistar-a-galáxia pode se transformar no produto de cinema mais vendido de sempre.
Já havia algum tempo que hesitava em gastar o primeiro texto a apresentar-me, ou a fazer a abordagens mais no estilo em que estou confortável. Escrever sobre cinema nesta plataforma é injusto para os leitores, porque a acidez do passar dos anos dá-me uma perspetiva mais cínica sobre uma arte á qual dediquei uma altíssima percentagem do meu tempo livre.
Queria dar o melhor das minhas palavras, por respeito a mim, aos leitores, ao BDNAUTA e ao chefe. Felizmente a oportunidade surgiu:
Avengers EndGame, não sendo um prodígio de argumentação, é o melhor filme de super-heróis que vi na vida. Nada do que se possa produzir num futuro a curto, médio e longo prazo terá condições de competir nestas circunstâncias. Por muito que a tecnologia avance, que o conceito de super-herói sofra mutações ou que as ideias se refresquem, não há mais por onde ir. Quer dizer que pode mais Thanos fazer? Eliminar o universo outra vez?
Arrigo Sachi, antigo técnico de futebol da equipa nacional italiana disse na década de 90:
“O futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes da vida”.
Permitam-me reciclar: Avengers Endgame é o melhor filme e adaptação sobre as leituras menos importantes (e mais gratificantes) da vida: revistas de super-heróis.
Mas que são essas revistas senão nós a tentar projetar o que há de melhor em nós?
Ao menos estive entretido e em boa companhia. As estatísticas dizem que é esse o género de imagem que nos aparece no cérebro antes dos momentos finais: pequenos momentos como ver a estreia do melhor filme da Marvel entre amigos e aficionados em véspera de feriado.